quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Por acaso uma poesia

Desativado

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Conhecimento x Lugar-Comum x Informação x Cultura x Educação

Este é um post que sugere um maneira simples de conceituar conhecimento, lugar-comum, informação, cultura e educação. Entender estes conceitos é essencial para entendermos quem somos e como agimos.


1.     Conhecimento:

É uma conclusão do indivíduo fruto de uma reflexão. Essa conclusão é então armazenada em sua memória, alimentando sua base de conhecimentos. Esta reflexão é a solução adotada a partir da interação entre um problema que o indivíduo defronta e as premissas que ele possui sobre aquela realidade na qual o problema se manifesta. Essa idéia de conhecimento tem sentido no âmbito do indivíduo (obs.: esta é uma sugestão de definição bastante peculiar de conhecimento que não condiz com a linha de raciocínio de alguns autores).
Exemplo de conhecimento: Uma cozinheira chega à conclusão que um peixe fica mais saboroso quando se coloca limão antes do sal. Esta conclusão é resultado do problema “preparar o peixe” integrado com sua noção de como se usa certos ingredientes e com alguns testes na cozinha.

2.     Lugar-Comum (chavão, clichê):

É uma idéia muito comum e bastante difundida e, por isso mesmo, as pessoas muitas vezes aceitam como verdade absoluta, se poupando do esforço de refletir sobre o que esta idéia representa para cada contexto em que ela é aplicada. Afinal de contas, uma idéia que é razoável em um contexto pode não ser em outro. O lugar-comum é uma frase pronta que pode gerar interpretações sutilmente distintas para realidades diferentes, e que muitas vezes resultam em tomadas de decisões equivocadas.
Exemplos de lugares-comuns: “Dinheiro não traz felicidade”. “O que estraga o Brasil são os políticos”. “O brasileiro é preguiçoso por natureza”... Enfim, nunca devemos deixar de refletir sobre o que uma idéia como essas realmente representa, por mais que elas pareçam, em uma primeira vista, absolutamente coerentes.

Relação entre lugar-comum e conhecimento:

Enquanto o conhecimento é fruto de reflexão dentro do contexto do problema, o lugar-comum é aceito como sendo verdade independente do contexto. Portanto, lugares-comuns são perigosos, pois se confundem com o conhecimento e podem gerar tomadas de decisões equivocadas.

3.     Informação:

É uma tentativa de compartilhar um conhecimento gerado, formalizando-o, normalmente por escrito ou então falado. Essa idéia de informação tem sentido em um âmbito coletivo.
Inclui descrições, hipóteses, conceitos, teorias e princípios.
Exemplo de informação: a cozinheira transmite para sua filha seu conhecimento de como se prepara um peixe, ou então escreve um livro de receitas.

Relação entre informação, lugar-comum e conhecimento:

No exemplo dado, se uma pessoa lê o livro de receitas ela está recebendo uma informação. Esta informação pode ser absorvida de duas maneiras básicas: ela pode ser decorada – sem reflexão. Ou seja, continua sendo uma informação na mente de quem lê. Ou então a pessoa pode confrontar a informação com seus conhecimentos prévios de cozinha. E então irá gerar um novo conhecimento a partir de uma reflexão resultante deste confronto. O conhecimento gerado pode condizer com a informação original ou não.
Nota particular: acumular informações não necessariamente aprimora o indivíduo se estas informações não forem convertidas em conhecimento. Como o conhecimento é fruto de uma reflexão e de uma solução de um problema, quando o indivíduo acumula um conhecimento, automaticamente ele está acumulando a situação em que aquela conclusão se aplica. Por outro lado, quando um indivíduo acumula uma informação ele não está totalmente ciente da condição em que aquela conclusão se aplica e por isso pode adotá-la de maneira equivocada como premissa para responder outras questões. Assim informação e lugar-comum são idéias bastante similares, com a diferença que lugar-comum é universalmente aceito por um senso comum e informação não necessariamente o é.

4.     Cultura:

Podemos definir cultura como o conjunto de idéias e práticas acumuladas por um povo.
Essas idéias são basicamente do tipo subjetivas.
Ao longo das gerações as pessoas passam por indagações existenciais muito comuns e muito importantes, cujas escolhas feitas irão definir o caminho que suas vidas tomam. E as escolhas erradas podem implicar em grandes desapontamentos e muitos percalços. A cultura, neste sentido, é uma tentativa de sistematizar um conjunto das supostas “melhores saídas“ para estas questões existenciais. Como o ser humano nasce sem nenhuma informação a cultura tem a pretensão de auxiliar a tomada de decisões, servindo como uma base de conhecimentos emprestado. Isso soa muito bem para questões objetivas, mas é muito perigoso para questões subjetivas. Uma questão ser subjetiva significa justamente ter uma resposta para cada indivíduo. Porém o que acontece é o fato das pessoas se identificarem com as idéias difundidas por sua cultura como se fossem suas próprias idéias, sendo que o ideal é somente adotar as idéias subjetivas em um período transitório de amadurecimento por falta de uma melhor opção. De fato, responder a questões subjetivas exige bastante reflexão e amadurecimento. E é muito difícil assumir estas escolhas quando vão de encontro com a cultura (ou senso comum), pois isso implica em repreensão por parte da fração conservadora da sociedade.
Exemplo: uma pessoa decide ser budista em um país de cultura cristã.
Exemplo: uma pessoa decide ser poligâmica em uma sociedade de cultura monogâmica.
Exemplo: uma pessoa decide ser artesã em uma sociedade que valoriza a formação acadêmica e a condição financeira do indivíduo.

Relação entre cultura, informação e conhecimento:

Podemos entender as idéias que uma cultura difunde como sendo informações que somente devem ser aceitas a partir de um processo de reflexão, ou seja, gerando conhecimento (que é individualizado).
Educação (formal):
A educação formal é uma tentativa de sistematizar a transmissão do conhecimento* gerado pela humanidade.
*nota: a palavra “conhecimento” aqui tem um sentido diferente do apresentado no primeiro parágrafo, significando o conjunto das teorias e práticas objetivas aceitas universalmente.

Relação entre educação, informação, conhecimento e cultura:

A título de exemplo, todos conhecem a história de que um dia Isaac Newton, sentado ao pé de uma macieira observou uma maçã caindo e então deduziu que existe uma força que atrai os objetos para a terra (chamada peso). A informação que existia nesta situação era: “objetos caem”. O conhecimento gerado é a teoria da Gravitação Universal que é fruto da reflexão sobre “por que objetos caem”. Naturalmente, muitas pessoas antes de Newton observaram a trivialidade da queda da maçã, mas ninguém gerou o conhecimento ou, pelo menos o formalizou em uma teoria. Portanto, uma vez aceita esta teoria, o passo seguinte é difundi-la para que as pessoas se beneficiem desta nova descoberta o quanto antes. Potencialmente qualquer pessoa pode – sozinha e informalmente - um dia inferir que existe uma força que atrai objetos para a terra. Porém, ao invés de esperar que cada pessoa do mundo deduza esta teoria é muito mais razoável pensar em transmiti-la de maneira sistematizada, poupando tempo e esforço cognitivo. Este é o papel da educação formal. Na prática, não fosse assim, nosso conhecimento sobre o mundo seria bastante lento e primitivo, já que o conhecimento é gerado de forma cumulativa, como em uma estrutura de árvore. Um conhecimento é a premissa para outros conhecimentos e assim sucessivamente. Por isso é importante se apoderar o máximo possível de todo o apanhado teórico-científico e prático que a humanidade já gerou, para sempre entendermos e lidarmos melhor com o mundo, além de estarmos aptos a gerar novos ramos desta árvore do conhecimento (que nunca irá parar de crescer).
Assim, a educação exerce um papel crucial para transmitir as práticas conhecidas e também para nos ajudar a responder as questões objetivas, ou seja, para explicar a realidade que é comum a todos nós. Porém ela tem dificuldades para explicar as questões subjetivas, ou seja, questões no âmbito da realidade de cada indivíduo. O principal problema é que normalmente a educação não consegue se desvincular da influência cultural, e assim as abordagens subjetivas nas salas de aulas costumam ser tendenciosas (pesando para o senso comum), o que nem sempre é o mais adequado para responder questões individuais.
Por último, vale salientar que o conhecimento não é fruto exclusivo da educação formal. No exemplo dado do preparo do peixe, a cozinheira possui um conhecimento fruto basicamente de sua experiência de vida. E, além disso, parece pertinente deduzir que nem sempre as pessoas adquirem conhecimento por estudarem muito se, enquanto isso, elas não desenvolvem um senso crítico capaz de fazer reflexões e ponderações sobre o que se está estudando.

quinta-feira, 30 de abril de 2009